
Várias tribos conectadas há um único meio
Por Rodolfo Avelino
Assim aconteceu mais uma edição da Campus Party, no Espaço Imigrantes em São Paulo, foi o maior evento de internet do Brasil e um dos maiores do mundo. Nesta terceira edição quatro grandes macro temas estiveram em discussão. Além da banda larga pública, aconteceram também discussões sobre Reforma do direito autoral; Marco Civil de direitos na Internet e Direitos Humanos na Internet. Celebridades como Gilberto Gil, Marcelo Tas, MV Bill e Beatriz Tibiriça, participaram dos debates.
Os campuseiros (nome batizado para os participantes que ficam acampados durante o evento), pouco participavam destas discussões. A grande atração do evento ficou por conta do link de 10 Gbps disponibilizado para os participantes. Além desta conexão para a internet, uma outra rede de compartilhamento (P2P) de arquivos, foi criada entre os campuseiros. Nesta rede era possível encontrar seriados de TV completos como House, Todo mundo Odeia o Cris e Os Simpsons, e filmes como Avatar e Alvin e os esquilos. No último dia do evento esta rede compartilhava aproximadamente 60 TB de dados.
O evento é dividido em duas áreas, uma reservada aos campuseiros, aonde a conexão de internet e as discussões aconteciam, e uma área pública aonde algumas empresas realizavam a exposição de seus produtos e serviços. Nesta área pública também estava instalado o batismo digital. O batismo digital tem como objetivo possibilitar o primeiro acesso digital a pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de ter acesso a este mundo digital. Neste ano esta área não estava em destaque. Nas duas últimas edições, existia uma grande circulação de pessoas nas atividades propostas, mas este ano não foi possível presenciar o sucesso dos anos anteriores. Talvez seja devido a localização do evento, o centro de convenções imigrantes não oferece muitas possibilidades de transporte.
Este ano o evento teve um aporte financeiro importante das grandes empresas de tecnologia. Além da Telefônica, a grande patrocinadora, empresas como Microsoft, Mercado Livre e Locaweb, fizeram um marketing agressivo, distribuindo vários brindes, incluindo viagens para o exterior.
Posso afirmar que o evento se tornou de elite. Os altos valores para ser um campuseiro é uma barreira para quem pretende participar e conhecer as novas tendências da internet. Os debates, palestras e mini cursos oferecidos pela organização, chamam pouca a atenção dos campuseiros. Mas a grande atração do evento fica por conta da internet, aonde tribos, comunidades, profissionais e estudantes se conectam por meio de uma grande rede social.
Comentário meu: José Adriano M C Marinho
Infelizmente não podemos afirmar que existe uma política consistente de inclusão digital, e quando há ações com este foco por parte do “Estado” e ou de organizações não governamentais, se perdem no tradicionalismo do próprio processo vinculado ao nosso sistema educacional, procuram “ensinar word, excel, powerpoint, etc... para adolescentes e jovens que confirmadamente já acessam as redes sociais e MSNs da vida e escrevem com um linguajar próprio; alguns termos já começam a surgir e serem analisados como “erros” ortográficos nas provas e trabalhos escolares. Quando na verdade este tradicionalismo além de não conseguir acompanhar a velocidade do encontro dos jovens com a tecnologia da informação, muitas vezes escondem computadores a sete chaves sob salinhas cheias de grades, onde nem os professores usam, nem os alunos tem acesso. Enquanto isso, “para o bem ou para o mau”, as lan houses, se ampliam em lugares que nem o Estado tem chegado. Esta é uma verdade que não pode ser negada. Outro aspecto importante é o interesse real das grandes empresas na expansão dessa tecnologia, em especial modo as ligadas em telefonia móvel, outro ponto pouco ou nada abordado no processo de reverter o uso da tecnologia para uma ação de construção democrática de conhecimento, e que no final são apenas cifras para estas empresas; ainda assim são um sinal importante de para onde estão seguindo estas tendências. Aquilo que anos atrás era impossível se quer no imaginário, hoje cabe na palma da mão e pode ser pago em 12 vezes sem juros com o seu “Bolsa Família”. Só o Estado ainda não deu o real valor a esta nova revolução tecnológica. Pois isso não é apenas uma revolução da tecnologia em si, mais também das formas de se relacionar, e mais ainda das formas como as classes sociais antes alijadas desses avanços, hoje considerada consumidor preferencial desse mercado, com condições inclusive de alterar a balança comercial brasileira e possibilitar ao país passar pela crise financeira internacional sem muitos abalos. Todas estas feiras, encontros, congressos, demonstração dos novos rumos da tecnologia, em especial da comunicação, devem ser como se recente o amigo Rodolfo, mais acessível para a presença e participação dos “Pagãos” carentes do batismo digital...
Rodolfo Avelino
É Professor da Universidade Cidade de São Paulo, consultor de projetos
de qualificação profissional, segurança da informação e Software Livre.
É educador da ONG Coletivo Digital, onde desenvolve o trabalho de
inclusão digital e capacitação em Software Livre. Coordenou a
Cooperativa de Produção em Tecnologia da Informação em Software Livre
Cooperjovem, onde desenvolveu um trabalho de geração de renda com jovens
da Zona Leste de São Paulo. Coordena o Congresso Internacional de
Software Livre (CONISLI). Nas horas vagas escuta música e faz algumas
mixagens.
Saiba mais em http://www.rodolfoavelino.com.br/
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