Estudo das Possibilidades Instrumentais do Serviço Social em uma Ação com Jovens
por José Adriano M. C. Marinho
Creio que o Serviço Social como afirma Yamamoto, alcança sua “maioridade” quando se reconhece histórico, instrumento, ciência e dinâmico, não aceitando mais a passividade diante das pressões que sofre, dado o seu papel mas as reconhece como existentes.
Ele se reconhece como totalidade e também como o indivíduo que forma. Reconhece nesse indivíduo, ator social determinado e determinante de sua história. Reconhece as atuais demandas do mercado, reconhece que, como todo jovem que alcança a maioridade, não basta reconhecer-se " maior", é necessário um agir "maior".
Reconhecer-se assim, implica para o profissional, olhar-se de forma profunda e confrontar-se com suas próprias contradições; não para aceitá-las como parte, mas reconstruir-se com toda sua pluralidade.
Um trabalho que atua com o publico jovem, localizado em uma situação dúbia na sociedade, "em ser sem estar sendo; e não sendo, sendo cobrado como se fosse", que ninguém entende muito bem o que é, por isso o coloca de lado, como algo em segundo plano, só percebido como um "ser" potencial de consumo pelo capital, ou como ator de violência, pelo Estado.
Os atuais programas e projetos sociais desenvolvidos para esse público, por mais democráticos que se desenhem, estão situados ainda como uma ação descontinuada, voltada não para a construção e exercício pleno da cidadania, mas de uma preocupação para que não se tornem "atores de violência", percebido no formato dos programas e através dos inúmeros recursos liberados para financiamento desses projetos e programas, por parte da Secretaria Nacional de Segurança.
Uma política que esteja voltada de fato para a juventude, deve percebê-la, como sujeito no presente, não no futuro. Ele vive, hoje como todos nós, o futuro dos jovens é igual ao de qualquer outra pessoa, “incerto”. As políticas setorizadas para esse público, devem ser discutidas e desenvolvidas com esse público.
Estas políticas não devem ser de fato diferenciadas de políticas que atendam ao restante dos cidadãos, afinal ele é tão cidadão como qualquer outro, apenas mais jovem. O que realmente é necessário, é possibilitar ao jovem espaços de participação e expressão, onde possa contribuir com toda a originalidade que traz dentro de si.
De acordo com Yamamoto o Serviço Social exerce uma ação eminentemente “educativa”, “organizativa”. É uma perspectiva não muito notada como tal, nem mesmo pelos próprios assistentes sociais. Por outro lado, Yamamoto, também coloca que o Serviço Social só se torna possível como profissão institucionalizada, como parte de uma estratégia do bloco no poder. O que traz a tona a sua instrumentalização pelo Estado, que ainda é um espaço ocupacional o importante.
Para se buscar um fazer diferente, dar forma e aplicação ao processo de reconceituação iniciado na década de 60 e ainda em movimento; é necessário que busquemos olhar mais e melhor, logo com mais profundidade para o arcabouço teórico construído pela profissão ao longo de sua história. Contextualizando cada momento desta história, percebendo-a como parte integrante do que somos hoje; estaremos dando um passo substancial na construção de novas referências, frente os novos tempos.
Ao pretender se desvencilhar do caráter coercitivo e consensual, pelo qual somos instrumentalizados desde a origem; temos que reconhecer tais origens e práticas que vigoram ainda hoje. Para então buscar com clareza alternativas teóricas, instrumentais e metodológicas que validem esta mudança; que validem um agir diferente.
Este novo agir, dentro de uma nova perspectiva, não vem de outro lugar, que não seja da população com a qual trabalhamos, de dentro de sua realidade, de suas formas de enfrentar seus problemas, de se realizarem.
A prática profissional não tem o poder miraculoso de revelar-se a si própria. Adquire seu sentido, descobre suas alternativas na história da sociedade da qual é parte.
(Yamamoto, 1992)
Aprender na relação com a população, é estar aberto para perceber que se queremos uma inversão nas relações de poder, no sentido que haja de fato uma transformação social; é necessário que esta população esteja, em relação ao profissional de Serviço Social, no lugar onde se encontra hoje o bloco no poder , que articula interesses homogeneizados pelo grande capital (Yamamoto, 1992).
Lançar um olhar sobre uma prática juvenil, empírica, que nasce espontânea, na busca de possibilidades instrumentais dentro de um perspectiva reconceituada; teve o objetivo de ensaiar uma iniciativa neste sentido. De aprender com a população com a qual trabalhamos, com sua história e com a nossa. Colocando-os no lugar que acredito ser seu por direito na sociedade; de seres emancipados, de protagonistas.
Chegar até aqui e ter dúvidas, faz parte e é bom, o problema é quando não as temos, ou quando as temos, não nos importarmos com elas.
José Adriano M C Marinho é Assistente Social da Prefeitura de Santo André/SP e Professor na Universidade de Guarulhos/SP - UNG