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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

E agora é o 3o. TURNO

Por Roberto Rodrigues de Andrade Junior
Presidente do Conselho Municipal de Assistência Social  de Santo André -SP (2010/2011)



Começa agora a parte mais difícil das eleições, realizarem o que foi prometido em campanha. Porém cabe a cada um de nós ficarmos atento e cobrar com tamanha energia quanto foi na campanha, seja lá de que lado estava.
Porém temos muitas esperança de mais avanços, pois felizmente a Dilma venceu as eleições, realmente ela poderá ser uma incógnita já que não sabemos bem quem ela é, mas sabemos bem quem seria ele na presidência, que agora não vai precisa mais abandonar o mandato sem terminar quando enjoar da cadeira, como fez depois de brincar de deputado, prefeito e governador.

QUEM GANHOU COM ESSA ELEIÇÃO?

  • Primeiramente o POVO, o mais simples, que melhorou de vida, que nunca pode viver tão bem como agora, de poder comer melhor, ter suas coisas, garantia de emprego, estudar e ver seus filhos(as) estudando e ainda poder sonhar com mais futuro.
  • A DILMA, pois sendo uma ilustre desconhecida se elegeu presidenta da 8ª. Economia do mundo.
  • O LULA, “analfabeto” para alguns, gênio para mim – terminar o mandato com 85% de aceitação em ótimo e bom é coisa inédita na nossa história, aliás, ter quase 90% nesse patamar durante o mandato também, poderíamos dizer que é pra poucos? Não, até agora temos que dizer que é só pra ele, ninguém até agora. E tão importante quanto isso é ser assim respeitado no mundo todo, parabéns presidente, continue assim “ analfabeto”, alias depois dele deveria ser pré-requisito pra ser presidente, já que seus antecessores eram todos bem “alfabetizados” e vejam o buraco onde nos levaram..
  • O BRASIL  que vai poder continuar crescendo também para os menores.
  • OS RICOS, segundo o próprio presidente, nunca ganharam tanto como agora.
  • A CAMPANHA POLÍTICA, já que as baixarias mentirosas e difamatórias do PSDB não conseguiram vencer a esperança, alias a realidade. ( embora em muitos momentos o PT não fez a campanha dos sonhos, também não subiu muito o nível dela).

QUEM PERDEU COM ESSA ELEIÇÃO ?

  • POUCA GENTE, já que ela vai ser presidenta de todos(as).
  • SERRA, que no fundo não é tão mal, mas que está com partidos errados, baixou demais a campanha e sai reduzido com dela.
  • OS ATORES E ATRIZES que agora ganham à concorrência do Serra como ator no papel fraquinho de goleiro Rojas ( chileno), que cena patética aquela do Rojas e agora pior do Serra.
  • A GLOBO que representa o atraso dos MCS que não entende seu papel de comunicação e se colocam ( como sempre) do lado de oligarquias escusas de poder pra meia dúzia de privilegiados.
  • Infelizmente a NOSSA IGREJA,  que por conta de algumas pessoas que  só não racharam a instituição porque a Igreja é maior que eles, mas que dividiram ainda mais suas fileiras, alguns que só sabem o que é o poder ditatorial que decide por todos(as) e que impede aos leigos(as) e fiéis o papel de pensantes na suas vidas e no Reino de Deus. Com quem será que aprenderam agir assim? Com Deus não foi...
  • O PSDB, que igual ao PFL, ARENA tende a sumir do cenário político, vão ter que se mexer muito para não implodir  o partido, ou talvez mudar de nome com fez o DEM.
  • MEIA DÚZIA de pessoas das altas classes que não se conformam que muitas vidas sejam resgatadas, valorizadas e elevadas da sobrevida e mendicância condenada por eles.

Parabéns a todos(as) que votaram na Dilma e também no Serra, agora vamos continuar trabalhando por um Brasil melhor, com condições de vida e vida em abundancia para todos(as). Se ela não é a presidenta do sonhos que seja uma boa presidenta da realidade. Passada a campanha vamos novamente nos juntar, somos todos brasileiros(as), ..."somos todos iguais, braços dados ou não.... vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer"...

Abraços
Roberto

Fotos do site terra.com.br

A imprensa perdeu



Por Luciano Martins Costa em 1/11/2010
Comentário para o programa radiofônico do OI, 1/11/2010



Os principais jornais do país anunciam a vitória da candidata petista Dilma Rousseff como a última obra do presidente Lula da Silva.
Estado de S.Paulo é o mais explícito: "A vitória de Lula", diz a manchete. O Globo se arrisca em adivinhações: "Lula elege Dilma e aliados já articulam sua volta em 2014", diz o jornal carioca. A intenção é claramente minimizar o cacife político da presidente eleita. Já a Folha de S.Paulo destaca o fato de o Brasil ter escolhido a primeira mulher "e primeira ex-guerrilheira" para a Presidência da República.
Lendo as edições do domingo e de segunda-feira (1/11), alguém que estivesse desembarcando no Brasil depois de três meses de viagem nem chegaria a desconfiar que a imprensa havia sido, até a véspera, protagonista das mais ativas na campanha eleitoral.
Desejo manifesto
Os jornais inauguram a semana pós-eleitoral com cara de jornais, não dos panfletos em que se transformaram nos últimos meses. Cada um conforme seus recursos, os diários tentam interpretar a vontade das urnas e adivinhar o que virá a ser o futuro governo. No entanto, alguns pontos em comum podem ser ressaltados.
A chamada grande imprensa procura afirmar que a oposição, apesar de derrotada na eleição principal, cresceu em número de eleitores, mesmo perdendo na maioria dos estados. A maioria feita pela candidata governista no Congresso Nacional seria equilibrada pela eleição de governadores oposicionistas nos estados mais populosos, segundo interpretam os jornais.
Como sempre, o viés ideológico direciona as escolhas da imprensa, que perdeu a disposição para arriscar opiniões fora da sua própria caixinha de convicções. Basta lembrar como foi a manada de adesões ao governo central nas duas eleições do presidente Lula da Silva para colocar em dúvida as afirmações dos jornais sobre a suposta solidez do bloco oposicionista.
Com o histórico do adesismo que marca a República desde a redemocratização, parece arriscado demais apostar em configurações de forças políticas com base no resultado quente das urnas. No caso, essas análises representam muito mais a manifestação dos desejos da imprensa, de não parecer assim tão derrotada pela realidade da votação, do que a expressão de uma visão realista do resultado eleitoral.
Dissimulando a derrota
Os jornais citam o desgaste que foi produzido nas bases da oposição por conta de divergências entre o candidato derrotado José Serra e o senador eleito de Minas Gerais Aécio Neves, considerado por analistas do próprio PSDB como o grande trunfo desperdiçado pela campanha oposicionista.
Sobram indícios de que os dois personagens criaram um fosso intransponível entre si, e que daqui para frente a consolidação da carreira de Aécio Neves implica a diminuição do papel a ser exercido por Serra.
Some-se a isso o fato de que Serra também tem divergências com o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, para se construir uma análise muito menos animadora sobre o seu futuro como líder da oposição. Além disso, ainda resta dentro do armário o esqueleto do suposto dossiê que teria sido montado no período da escolha do candidato do PSDB, e que teve como objetos de bisbilhotices pessoas ligadas a José Serra.
Serra perdeu em Minas Gerais e ninguém sabe quanto desses votos foram para a candidata oposicionista como vingança dos mineiros pela maneira como ele passou por cima das ambições políticas de Aécio Neves.
A imprensa também destaca que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, anda fazendo planos para se descolar de seus padrinhos políticos e prepara o lançamento de um novo partido, montado com os restos da liderança do peemedebista Orestes Quércia no estado.
Assim, em poucas linhas, pode-se observar que os principais jornais do país, que tiveram praticamente todo o final de semana para preparar suas análises pós-eleitorais, perderam a oportunidade de surpreender o eleitor explorando as amplas possibilidades que se armam nas relações políticas com a vitória de uma candidata que nunca havia disputado uma eleição, cuja biografia tinha tudo para reduzir suas chances de vitória – dado o conhecido conservadorismo da imprensa e de grande parte do eleitorado – e que foi vítima de uma campanha sórdida e preconceituosa.
Não há como dissimular o papel da imprensa tradicional no jogo sujo que termina. Também fica difícil disfarçar o ressentimento da imprensa com o resultado das urnas. Não há análise, por mais que se pretenda distanciada, que esconda o fato de que a imprensa tradicional foi fragorosamente derrotada nestas eleições.

domingo, 12 de setembro de 2010

O ATAQUE DOS PÁSSAROS



SUZANA SINGER

ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman


A manchete de domingo desencadeou uma onda anti-Folha no Twitter, que o jornal ignorou

A Folha vem se dedicando a revirar vida e obra de Dilma Rousseff. Foi à Bulgária conversar com parentes que nem a candidata conhece, levantou a fase brizolista da ex-ministra, suas convicções teóricas e até uma loja do tipo R$ 1,99 que ela teve com uma parente no Sul. Tudo isso faz sentido, já que Dilma pode se tornar presidente do Brasil já no primeiro escrutínio que disputa.Mas, no domingo passado, o jornal avançou o sinal ao colocar na manchete "Consumidor de luz pagou R$ 1 bi por falha de Dilma". O problema nem era a reportagem, que questionava a falta de iniciativa do Ministério de Minas e Energia para mudar uma lei que acabava por beneficiar com isenção na conta de luz quem não precisava.Colocar uma lupa nas gestões da candidata do governo é uma excelente iniciativa, mas dar tamanho destaque a um assunto como este não se justifica jornalisticamente.Foi iniciativa de Dilma criar a tal Tarifa Social? Não, foi instituída no governo Fernando Henrique Cardoso. É fácil mexer com um benefício social? Não, o argumento de que faltava um cadastro de pobres que permitisse identificar apenas os que mereciam a benesse faz muito sentido. Existe alguma suspeita de desvio de verbas? Nada indica.O lide da reportagem dava um peso indevido ao que se tinha apurado. Dizia que a propaganda eleitoral apresenta a candidata do PT como uma "eficiente gestora", mas que "um erro coloca em xeque essa imagem". Essa tem que ser uma conclusão do leitor, não do jornalista.Uma manchete forçada como a da conta de luz, somada a todo o noticiário sobre o escândalo da Receita, desequilibrou a cobertura eleitoral. Dilma está bem à frente nas pesquisas de intenção de voto e isso é suficiente para que se dê mais atenção a ela do que a seu concorrente, mas, há dias, José Serra só aparece na Folha para fazer "denúncias".Nada sobre seu governo recente em São Paulo. Nada sobre promessas inatingíveis, por exemplo.Os leitores perceberam a assimetria. Durante a semana, foram 194 mensagens à ombudsman protestando contra o noticiário, mas o maior ataque ocorreu no Twitter, a rede social simbolizada por um pássaro azul, que reúne pessoas dispostas a dizerem o que pensam em 140 caracteres. Até quinta-feira passada, tinham sido postadas mais de 45 mil mensagens anti-Folha.

CRIATIVIDADE
Os internautas inventaram manchetes absurdas sobre a candidata de Lula: "Empresa de Dilma forneceu a antena para o iPhone 4", "Dilma disse para Paulo Coelho, há 20 anos: continue a escrever, rapaz, você tem talento!", "Serra lamenta: a Dilma me indicou o Xampu Esperança" e "Errar é humano. Colocar a culpa na Dilma está no Manual de Redação da Folha". O movimento batizado de #Dilmafactsbyfolha virou um dos assuntos mais populares ("trending topics") do Twitter em todo o mundo, impulsionado, em parte, pela militância política -segundo levantamento da Bites, empresa de consultoria de planejamento estratégico em redes sociais, 11 mil tuítes usaram um #ondavermelha, respondendo a um chamamento da campanha do PT na rede. Até o candidato a governador Aloizio Mercadante elogiou quem engrossou o coro contra o jornal.Mas é um erro pensar que apenas zumbis petistas incitados por lideranças botaram fogo no Twitter. O partido não chegou a esse nível de competência computacional.Na manada anti-Folha, havia muito leitor indignado, gente que não queria perder a piada, além de velhos ressentidos com o jornal.Não dá para desprezar essa reação e a Folha
fez isso. Não respondeu aos internautas no Twitter e não noticiou o fenômeno. O "Cala Boca Galvão" durante a Copa virou notícia. No primeiro debate eleitoral on-line, feito por Folha/UOL em agosto, publicou-se com orgulho que o evento tinha sido um "trending topic". Não dá para olhar para as redes sociais apenas quando interessa. A Folha deveria retomar o equilíbrio na sua cobertura eleitoral e abrir espaço para vozes dissonantes. O apartidarismo -e não ter medo de crítica- sempre foram características preciosas deste jornal.

Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.


Fonte: http://blogln.ning.com/profiles/blogs/o-ataque-dos-passaros

Direito de Resposta...

Erenice rebate reportagem e põe sigilos à disposição

A ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, divulgou nota neste sábado (11/09) rebatendo as informações divulgadas pela revista Veja e informa que estão à disposição seu sigilo fiscal, bancário e telefônico, assim como o de seus familiares. De acordo com a reportagem, ela montou no Palácio do Planalto uma central de lobby por meio da empresa de consultoria de seu filho, Israel Guerra, que cobrava de empresários interessados em fazer negócios com o governo uma taxa de propina de 6%.

A revista afirma que o empresário paulistano Fábio Baracat, que teria realizado um desses negócios, encontrou-se com Erenice quatro vezes para fechar um negócio de transporte aéreo com os Correios.

Ele afirmou à revista que a ministra pediu propina para "saldar compromissos políticos". Segundo Erenice, a matéria é "caluniosa". Abaixo, a íntegra da nota:

"Sobre a matéria caluniosa da revista VEJA, buscando atingir-me em minha honra, bem como envolver familiares meus, cumpre-me informar:

1) Procurados pelo repórter autor das aleivosias, fornecemos - tanto eu quanto os meus familiares - as respostas cabíveis a cada uma de suas interrogações. De nada adiantou nosso procedimento transparente e ético, já que tais esclarecimentos foram, levianamente, desconhecidos;

2) Sinto-me atacada em minha honra pessoal e ultrajada pelas mentiras publicadas sem a menor base em provas ou em sustentação na verdade dos fatos, cabendo-me tomar medidas judiciais para a reparação necessária. E assim o farei. Não permitirei que a revista VEJA, contumaz no enxovalho da honra alheia, o faça comigo sem que seja acionada tanto por DANOS MORAIS quanto para que me garanta o DIREITO DE RESPOSTA;

3) Como servidora pública sinto-me na obrigação, desde já, de colocar meus sigilos fiscal, bancário e telefônico, bem como o de TODOS os integrantes de minha família, à disposição das autoridades competentes para eventuais apurações que julgarem necessárias para o esclarecimento dos fatos;

4) Lamento, por fim, que o processo eleitoral, no qual a citada revista está envolvida da forma mais virulenta e menos ética possível, propicie esse tipo de comportamento e a utilização de expediente como esse, em que se publica ataque à honra alheia travestido de material jornalístico sem que se veicule a resposta dos ofendidos.

Brasília, 11 de setembro de 2010.
Erenice Guerra
Ministra-Chefe da Casa Civil da Presidência da República." (AE)


Fonte: http://www.reporterdiario.com/site/noticia.php?id=207382&secao=2



O Tesão dos Velhos


O Brasil, como vários outros países do mundo, tem menos jovens; mas os velhos estão mais jovens


Gilberto Dimenstein

É com ânimo de adolescente que o arquiteto Jaime Lerner fala sobre sua experiência de produzir o menor carro do mundo, a ser apresentado nesta semana durante uma feira de design. A ideia é que o microautomóvel não seja vendido a particulares, mas fique em diversos estacionamentos da cidade, para ser alugado por hora, ajudando a aliviar o trânsito. "O carro só tem um problema: eu quase não consigo entrar nele", brinca com seu peso.
Rapidamente muda de assunto: fala das experiências de inovação urbana que o fazem viajar sem parar pelo mundo. Conta que um dos seus projetos, já desenhado, é criar o maior parque linear do mundo, em cima da linha de trem que passa na cidade de São Paulo. "Isso redefiniria o conceito de periferia."
A conversa ruma para questões pessoais e eu lhe pergunto se está namorando. Jaime, viúvo, diz que não vai encontrar ninguém que substitua Fani, sua falecida mulher. Nem se mostra disposto a morar com mais ninguém. Namorar pode ser. "Desde que não me chateie."
Escolhi Jaime, 73 anos, para abrir a coluna de hoje por causa de uma informação divulgada pelo IBGE na semana passada: cresce aceleradamente a faixa etária dos mais velhos. Em apenas um ano, de 2008 a 2009, foram mais 697 mil pessoas -quase a quantidade da redução que houve entre os jovens até os 24 anos de idade.
Estamos vivendo uma redefinição da velhice, uma redefinição acentuada nesta sucessão presidencial.
O Brasil -assim como vários outros países do mundo- está com menos jovens, mas os velhos, de modo geral, estão mais jovens.
Uma prova disso foi uma campanha publicitária lançada na semana passada na Inglaterra depois da descoberta de que as doenças venéreas estão crescendo especialmente entre os homens com mais de 65 anos de idade. Em sua maioria, eles imaginam que esse tipo de doença é coisa de adolescente e que, portanto, estariam imunes a elas, já que, com mais experiência, saberiam escolher melhor as parceiras.
Por trás disso, segundo os responsáveis pela campanha, estão o aumento da expectativa de vida e o crescimento do número de divórcios, além, é claro, dos novos medicamentos e tratamentos para cuidar da saúde, no geral, e da disfunção erétil, em particular.
Principal personagem desta sucessão presidencial, Lula, 65 anos, é visto muito menos como ex-presidente do que como candidato na próxima eleição, quando já terá quase 70 anos. Ninguém vê problema nisso.
Assim como se especula que, caso saia mesmo derrotado, como reforçou a pesquisa Datafolha divulgada ontem, José Serra talvez dispute a prefeitura paulistana aos 70 anos. Muita gente dentro do PSDB lista uma série de razões para o ex-governador não sair candidato, mas idade não aparece entre elas.
Há um time de brasileiros que vai, aos poucos, redefinindo o que significa ser velho. É gente como Silvio Santos, Hebe Camargo, Jô Soares, Fernando Henrique Cardoso, Boni, Chico Buarque, Caetano, Gil, Niemeyer, Adib Jatene.
De alguma forma, eles se comportam, na sua inventividade, como educadores e ajudam a quebrar o preconceito de que ser velho é apenas esperar a morte.
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha sobre a terceira idade mostrou que um terço dos brasileiros com mais 60 anos admite ter depressão. Nesse grupo, o medo da morte é igual ao de ficar doente -isso sinaliza como será complicado preparar os sistemas de saúde para atender a essa clientela.
Psiquiatras alertam sobre o risco de certos preconceitos acabarem atrapalhando o processo de envelhecimento. É que, além dos problemas naturais da idade, é comum a visão que se tem da vida na terceira idade como um momento sem novidades, previsível, monótono, o que, muitas vezes, aumenta a probabilidade de surgirem doenças físicas e psicológicas. Veja quantos acadêmicos, no auge de sua fertilidade mental, se aposentam da universidade.
Isso significa que tesão pela vida se aprende. Ou se desaprende.
Aprende-se, por exemplo, vendo um Jaime Lerner, cercado de universitários, tão satisfeito quanto desajeitado, espremendo-se para entrar no menor carro do mundo.

PS- Aliás, se o país fosse só de sessentões, a eleição presidencial seria assim: Dilma (44%), Serra (32%), Marina Silva (7%). Coloquei no meu site (
www.dimenstein.com.br) a pesquisa Datafolha sobre idosos.

gdimen@uol.com.br


Fonte: http://sergyovitro.blogspot.com/2010/09/gilberto-dimenstein-o-tesao-dos-velhos.html



O Tesão dos Velhos


O Brasil, como vários outros países do mundo, tem menos jovens; mas os velhos estão mais jovens


Gilberto Dimenstein

É com ânimo de adolescente que o arquiteto Jaime Lerner fala sobre sua experiência de produzir o menor carro do mundo, a ser apresentado nesta semana durante uma feira de design. A ideia é que o microautomóvel não seja vendido a particulares, mas fique em diversos estacionamentos da cidade, para ser alugado por hora, ajudando a aliviar o trânsito. "O carro só tem um problema: eu quase não consigo entrar nele", brinca com seu peso.
Rapidamente muda de assunto: fala das experiências de inovação urbana que o fazem viajar sem parar pelo mundo. Conta que um dos seus projetos, já desenhado, é criar o maior parque linear do mundo, em cima da linha de trem que passa na cidade de São Paulo. "Isso redefiniria o conceito de periferia."
A conversa ruma para questões pessoais e eu lhe pergunto se está namorando. Jaime, viúvo, diz que não vai encontrar ninguém que substitua Fani, sua falecida mulher. Nem se mostra disposto a morar com mais ninguém. Namorar pode ser. "Desde que não me chateie."
Escolhi Jaime, 73 anos, para abrir a coluna de hoje por causa de uma informação divulgada pelo IBGE na semana passada: cresce aceleradamente a faixa etária dos mais velhos. Em apenas um ano, de 2008 a 2009, foram mais 697 mil pessoas -quase a quantidade da redução que houve entre os jovens até os 24 anos de idade.
Estamos vivendo uma redefinição da velhice, uma redefinição acentuada nesta sucessão presidencial.
O Brasil -assim como vários outros países do mundo- está com menos jovens, mas os velhos, de modo geral, estão mais jovens.
Uma prova disso foi uma campanha publicitária lançada na semana passada na Inglaterra depois da descoberta de que as doenças venéreas estão crescendo especialmente entre os homens com mais de 65 anos de idade. Em sua maioria, eles imaginam que esse tipo de doença é coisa de adolescente e que, portanto, estariam imunes a elas, já que, com mais experiência, saberiam escolher melhor as parceiras.
Por trás disso, segundo os responsáveis pela campanha, estão o aumento da expectativa de vida e o crescimento do número de divórcios, além, é claro, dos novos medicamentos e tratamentos para cuidar da saúde, no geral, e da disfunção erétil, em particular.
Principal personagem desta sucessão presidencial, Lula, 65 anos, é visto muito menos como ex-presidente do que como candidato na próxima eleição, quando já terá quase 70 anos. Ninguém vê problema nisso.
Assim como se especula que, caso saia mesmo derrotado, como reforçou a pesquisa Datafolha divulgada ontem, José Serra talvez dispute a prefeitura paulistana aos 70 anos. Muita gente dentro do PSDB lista uma série de razões para o ex-governador não sair candidato, mas idade não aparece entre elas.
Há um time de brasileiros que vai, aos poucos, redefinindo o que significa ser velho. É gente como Silvio Santos, Hebe Camargo, Jô Soares, Fernando Henrique Cardoso, Boni, Chico Buarque, Caetano, Gil, Niemeyer, Adib Jatene.
De alguma forma, eles se comportam, na sua inventividade, como educadores e ajudam a quebrar o preconceito de que ser velho é apenas esperar a morte.
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha sobre a terceira idade mostrou que um terço dos brasileiros com mais 60 anos admite ter depressão. Nesse grupo, o medo da morte é igual ao de ficar doente -isso sinaliza como será complicado preparar os sistemas de saúde para atender a essa clientela.
Psiquiatras alertam sobre o risco de certos preconceitos acabarem atrapalhando o processo de envelhecimento. É que, além dos problemas naturais da idade, é comum a visão que se tem da vida na terceira idade como um momento sem novidades, previsível, monótono, o que, muitas vezes, aumenta a probabilidade de surgirem doenças físicas e psicológicas. Veja quantos acadêmicos, no auge de sua fertilidade mental, se aposentam da universidade.
Isso significa que tesão pela vida se aprende. Ou se desaprende.
Aprende-se, por exemplo, vendo um Jaime Lerner, cercado de universitários, tão satisfeito quanto desajeitado, espremendo-se para entrar no menor carro do mundo.

PS- Aliás, se o país fosse só de sessentões, a eleição presidencial seria assim: Dilma (44%), Serra (32%), Marina Silva (7%). Coloquei no meu site (
www.dimenstein.com.br) a pesquisa Datafolha sobre idosos.

gdimen@uol.com.br


Fonte: http://sergyovitro.blogspot.com/2010/09/gilberto-dimenstein-o-tesao-dos-velhos.html



segunda-feira, 6 de setembro de 2010

domingo, 5 de setembro de 2010

A Escolha para dia 03 de Outubro...

José Adriano M C Marinho

Professor na Universidade de Guarulhos

Assistente Social na Prefeitura de Santo André

É notório pelos posts que envio no meu Blog, que tenho com certeza, posição a favor da Política do Governo Lula, e logo sou a favor também de que as conquistas construídas no seu governo permaneçam o maior tempo possível, e claro se consolidem de maneira que as gerações futuras possam usufruir dos desdobramentos dessas políticas. Vivi minha infância e juventude em época que a questão social era benemerência e “boa vontade” de primeiras damas espalhadas pelo país, ou mesmo para uso política transformando as pessoas em gado nos chamados “currais eleitorais”. Hoje temos por conquista popular uma política de Assistência Social como direito do cidadão, fundamentada em lei federal. Esta mesma lei promulgada na constituição de 1988, só foi regulamentada por grande esforço e pressão popular, enfrentando os interesses privatizantes dos governos neo-liberais de Collor à FHC. Governos que comprometidos unicamente com a adequação subserviente do país ao “Consenso de Washington”, aplicaram os processos de abertura econômica de forma desastrosa, expondo a industria e economia interna, a uma competição desigual com os países desenvolvidos e de mercados abertos e saturados. Nosso país durante a ditadura militar que perdurou até 1985, muitas vezes de forma negativa, “protegeu” através de um controle da economia pelo Estado, o mercado interno. O aspecto positivo é a garantia dos empregos nacionais, o que não por mérito da ditadura, levou ao fortalecimento e retomada dos movimentos sindicais. O aspecto negativo é que a proteção interventiva do estado na economia, se deu baseada em dados irreais e com muita corrupção, gerando monopólios e oligopólios, o que por outro lado facilitava a ação de controle do Estado também sobre a vida das pessoas, sobre que podem comer, comprar, ver, ler, ouvir, etc.. Logo a capacidade real de inovação e competitividade se perde completamente. Os interesses das forças econômicas que levaram Collor e FHC ao poder, nunca se importaram com a estrutura econômica do país e tão pouco com a capacidade de adaptação do país a esse “novo capitalismo” mais agressivo. Isso é tão verdade que hoje, olhando a distância, percebe-se que o Collor ficou vendido ao assumir a abertura econômica como proposta de governo, e a faz sem constituir condições para no mínimo proteger as reservas econômicas que possibilitariam autonomia e soberania nacional frente a negociação econômica. Podemos dizer que a abertura feita por Collor criou um desiquilíbrio de maneira acentuada negativamente para o país da balança comercial, causando uma forte evasão de divisas. E hoje na perspectiva de distância que citei, vejo que o “calote sobre as cadernetas de poupança”, foi quase um ato de desespero do então presidente e sua equipe econômica... caso isso não afeta-se os grandes grupos econômicos nacionais que inclusive o apoiavam, ele dificilmente teria sido retirado do poder, e quanto a isso há de desmistificar a “vontade” popular no tema. Já Fernando Henrique, baseado na experiência de Collor, e no papel ainda de Ministro da Economia do Governo Itamar Franco, consegue gerir uma proposta de abertura econômica neo-liberal, que de olho na balança comercial, nivela artificialmente a moeda nacional ao dólar (valor internacional de troca de mercadorias), congela salários (fazendo correções sempre abaixo da inflação), privatiza bens e empresas públicas, com a justificativa da ineficiência dessas empresas, lembrando que estas empresas foram geridas durante 20 anos dentro dos preceitos econômicos protecionistas da ditadura militar, logo de fato, se olhadas na perspectiva do capital eram de fato ineficientes, além de terem a prioridade sob determinadas áreas da economia em detrimento do setor privado (comunicação, geração de energia, siderurgia, bancaria, etc...) tudo foi privatizado. Para manutenção da “estabilidade econômica”, ou seja da balança comercial, nesse caso propiciando a entrada de divisas; o governo FHC ofereceu juros de até 45% ao mês (valor correspondente aos últimos meses de FHC no poder antes das eleições que levaram Lula a substituí-lo). Ou seja, para cada 100 dólares que entravam no país FHC chegou a pagar 45% de juros ao mês!!!! Tudo isso sem lastro, ou seja, o investidor investia no país como se fosse um banco, no momento que outro “banco” oferecesse um juros maior, o investidor simplesmente fazia uma retirada e depositava seu dinheiro com juros no outro “banco”. O lastro seria se houve-se mecanismos fiscais que sobretaxasse o dinheiro em retiradas como e descrita acima, ou caso o investimento incentivado por FHC, fosse na industria e na produção nacional, nesse caso o lastro seria, as dificuldades inerentes aos procedimentos legais para se fechar uma fábrica por exemplo (rescisões de contrato de trabalho, venda de maquinário e imóveis, pagamento de impostos, etc...). Esse dinheiro com lastro tem maior dificuldade para entrar e sair com rapidez de qualquer mercado, no mercado financeiro é conhecido como um investimento de maior risco por ter que lidar com muitas variantes e estar atrelado a um tempo de permanência fora do controle do investidor, diferente do que promoveu FHC com o Plano Real. Na área social, a legislação foi colocada de lado, e os poucos avanços foram possibilitados através de lutas populares e por que mesmo querendo FHC, não tinha como negar o que estava escrito na Constituição Federal. Por outro lado o que pode fazer para protelar, impedir ou não fazer em relação ao social ele fez. Começando com repaginação do papel da Primeira Dama, como promotora da benemerência, através da criação da “Comunidade Solidária”, que se baseava na captação de recursos privados para ações sociais, incentivando a “Responsabilidade Social das Empresas”, ou podemos assim dizer a privatização do Social, pois baseada nas atividades e números pífios da Comunidade Solidária se comparados com as questões sociais enfrentadas; ocorre uma completa ausência do Estado no tema; pontuado por algumas iniciativas descontinuadas e localizadas de transferência de renda em lugares dispares, espalhadas pelo país. É somente, nos últimos oito anos no Governo Lula, que buscando a eficácia e eficiência no uso do dinheiro público o sistema de Bolsas é unificado e se torna o Bolsa Família, e com um processo de controle e sistema de monitoramento, é a cada dia aperfeiçoado. E se busca e constrói a efetividade desse e demais programas, que ganharam dimensões nacionais e transformaram a realidade de milhões de brasileiros por todo o país. Foi nesses oito anos que o SUAS (Sistema Único de Assistência Social) se constitui, e se torna de fato instrumento de garantia de direitos sociais como prevê a Constituição Federal. O Governo Lula, é em muitos aspectos também neo-liberal, por outro lado reconhece e imprime uma postura não subserviente do pais frente as políticas econômicas dos países ditos desenvolvidos, estabelece uma relação que imprime o respeito e o qualifica como mediador independente e aceito internacionalmente pelos outros países. Busca sim investidores internacionais, não apenas através de oferta de juros, hoje de 8% ao ano (altíssima), mais condicionando ao apoio a industria nacional ou a implantação de plantas industriais no território nacional, e mais ainda, não em qualquer parte do território nacional. Esse investimento é dirigido para fora do Eixo Sul/Sudeste, ou seja para o Centro Oeste e especialmente para o Nordeste e Norte do país, regiões historicamente controladas pelo Coronelismo e economicamente atrasadas, que hoje se percebem concorrentes inclusive com estados do Sul e Sudeste.

A exposição superficial das diferenças de fundo do que de fato está em jogo nas eleições deste ano, é um demonstrativo do viés político que é defendido pelos dois candidatos a frente nas pesquisas. Neste fim de semana (04 e 05/09) vi com mais atenção as propagandas eleitorais desses candidatos, e para mim eles demonstram com clareza a analise que fiz. A propaganda de Dilma tratando de suas propostas baseadas no mínimo na continuidade do governo Lula, o qual representa, onde dizia assim: Ele (Lula) veio primeiro, Ela (Dilma) veio depois. tratando de conquistas anteriores ao gov Lula e consolidadas por Ele, mostrando as possibilidades com um Gov Dilma... Em seguida a propaganda do Serra, sem proposta, atacando violentamente o caráter de Dilma e Lula. Se tudo que o candidato José Serra tem para dizer se refere aos “factoides” políticos providencialmente “surgidos” sobre quebra de sigilo, que como cidadão quero que sejam devidamente investigados, fica complicado de se verificar oque de fato em termos de política nacional, economia, desenvolvimento, assistência social, educação e mesmo saúde (afinal de contas “mutirões” não são políticas, no máximo uma ação descontinuada de benemerência assistencialista das primeiras damas) o candidato oferece de novo. José Serra e a reafirmação da subserviência dos anos de FHC, de entrega acrítica de economia nacional para os Bancos Internacionais, dos quais hoje com Lula não somos devedores, e sim credores! Significa a venda irrestrita das reservas do Pré-Sal, do uso de terras destinadas a reforma agrária para o agronegócio; bem como uma nova ausência do Estado na área social, comprometendo as vitórias alcançadas assim como o redirecionamento dos investimentos para o Sul e Sudeste, onde se concentra os grandes grupos apoiadores do PSDB. Dilma por outro lado, trás a possibilidade de ampliação e consolidação de conquistas dos últimos anos, contribuindo com construção de uma identidade nacional, com um brasilidade forte, com um orgulho de ser quem somos, por sermos quem somos, de não querermos nos espelhar no “1º mundo”, que hoje naufraga nos erros de suas políticas econômicas, e em seus ícones ultrapassados de sucesso; mais nos espelhemos em histórias de superação de gente simples, que com o “b” “a” “ba” do dia a dia resolvem seus problemas com criatividade e desenvoltura, que se sentem representadas na imagem do nosso presidente que mesmo em meio a onda neo-liberal fez uma opção clara pelo Brasil e pelos Brasileiros.

Desafios da vida longa

Emílio Odebrecht

Presidente do Conselho de Administração do Grupo Odebrecht


Os países em geral e o Brasil, em particular, já sabem que têm um novo e enorme desafio pela frente. Graças aos avanços tecnológicos e às novas descobertas da medicina, que proporcionam maior precisão nos diagnósticos e tratamentos; à melhoria da qualidade dos alimentos e do meio onde as pessoas vivem e trabalham e a uma nova consciência quanto aos cuidados com a própria saúde estamos caminhando para viver o fenômeno de ter quatro gerações em fase produtiva convivendo simultaneamente. Até agora a convivência foi sempre de três gerações, mas com a elevação da expectativa de vida, vamos inserir a quarta.

A estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de que existem hoje 670 milhões de homens e mulheres com mais de 60 anos no mundo. Em 2050, eles serão 1,97 bilhão, um crescimento de 300%. A expectativa média de vida da humanidade, que era de 50 anos em 1950, saltou para 80 em 2010. No Brasil, onde a expectativa média era de 43 anos em 1945, hoje é de 73. O IBGE já projeta uma inversão no perfil demográfico do País, com mais idosos do que jovens, para logo mais, em 2030, ou seja, daqui a apenas 20 anos.

Esses números dão uma clara dimensão da reflexão necessária e das medidas que já devem ser tomadas por governos, sociedades, empresas e pessoas para que possam enfrentar, na hora certa, o que a nova realidade vai impor.

No âmbito das empresas, por exemplo, o que fazer dos executivos que, depois de terem acumulado um grande saber em suas áreas de atuação, nos processos naturais de renovação têm que dar lugar aos seus sucessores, mesmo estando na plenitude física e mental? Absorver o conhecimento e a capacidade produtiva de tanta gente experiente e saudável é um novo desafio estratégico. Vale lembrar que, em outras civilizações e épocas históricas, os idosos, que não devem ser confundidos com os velhos, eram uma fonte de ensinamentos e guias dos mais jovens.

Este é um tema que precisa fazer parte também das agendas dos vários níveis de governos, de modo que comecemos a elaborar e a executar políticas públicas adequadas ao novo perfil populacional, como adaptar nossas cidades para seus habitantes mais velhos; equacionar o sistema previdenciário para assegurar benefícios decentes a um contingente cada vez mais numeroso de idosos; reciclar e aproveitar-lhes o conhecimento na área educacional, de assistência social etc... Finalmente, a sociedade e as pessoas precisam se preparar para que haja uma convivência saudável, positiva e harmônica entre gerações cujos integrantes estarão em idades distantes e em estágios de capacidade produtiva e de sabedoria muito diferentes.

Fonte:http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=39384

Eleições Criminais

Janio de Freitas


OS FATOS e os não-fatos já mencionados, em torno de dados sigilosos de pessoas ligadas a José Serra, não exigem imparcialidade virtuosa para a percepção de que, até agora, tanto poderiam proceder de um lado como de outro na disputa pela Presidência.

Assim como a petistas seria possível ocorrer a violação e o uso de sigilos para comprometer Serra, aliados de Serra poderiam pensar na montagem de um ardil para incriminar a candidatura de Dilma Rousseff. E, por ora, não se tem indício, com alguma confiabilidade, contra um lado ou outro. O que há, nesse sentido, são preferências infiltradas no noticiário e dando-lhe o tom, ainda que parte delas seja mais por precipitação do que por motivos eleitorais.

A última contribuição desse estranho personagem Antonio Carlos Atella Ferreira, que tanto perde na memória atos inesquecíveis como os recobra com rápida e fácil dubiedade, é ilustrativa do momento indefinido. “Vou fazer a vida com essa historinha”, lema que expôs logo ao ser identificado como parte do embrulho, é uma proclamação de caráter e intenções, para não dizer de objetivo de vida. A curiosidade se oferece: ainda não fez a vida?

A filiação de Atella ao PT traz para o caso mais uma peça amorfa, sujeita a questionamento: a Justiça Eleitoral. Como é possível que só seis anos depois da filiação o Tribunal Regional Eleitoral-SP a tenha “excluído” por incorreção no registro?

No intervalo 2003-2009, houve eleições para prefeito, governo do Estado, presidente da República e ainda para vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores. Em São Paulo, a maior concentração da Justiça Eleitoral no país não sabia quais filiações partidárias eram corretas ou não? Logo, não seria estranho haver irregulares entre os candidatos e até entre os eleitos.
E quanto a Atella Ferreira, como e por que veio a saber da incorreção, afinal? Descoberta havida em momento tão propício para engrossar o caso, dois meses depois da quebra do sigilo de Verônica Serra em que é coautor, com o próprio nome a indicá-lo na fraude. A Justiça Eleitoral deve explicações.

Desde 1982, quando o SNI, o candidato Moreira Franco, integrantes do departamento de jornalismo da Globo e a empresa de informática Proconsult se uniram para fraudar a eleição no Estado do Rio, as eleições brasileiras são terreno de bandidismo eleitoral, do mais ordinário ao mais grave. Todos os episódios provocaram inquéritos de polícias estaduais e da Federal, do Ministério Público, da Justiça Eleitoral e da Justiça Criminal. Nenhum, jamais, levou a alguma das consequências determinadas pelas leis.

Estamos diante de mais um caso. Cercado de suspeições e hipóteses viáveis, em diferentes sentidos. Com toda a certeza, recheado de crimes graves, inclusive contra preceito da Constituição. Mas não há motivo para supor que das várias investigações resultarão as consequências exigidas pelas leis. Eleições, aqui, misturam-se muito com outros propósitos e atividades.

Fonte:http://www.linearclipping.com.br/fecomerciodf/detalhe_noticia.asp?cd_sistema=7&codnot=1300411

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A ousadia de Lula

Por Delfim Netto

Diante de uma crise que afetou a confiança, o presidente soube evitar que os empresários jogassem na retranca e salvou empregos no País

Uma das grandes diferenças que marcaram as tentativas de recuperação econômica do Brasil em relação ao resto do mundo durante a crise de 2008/2009 foi a sustentação do emprego. A rede de proteção que se estabeleceu com a exoneração tributária para que as empresas pudessem continuar trabalhando resultou na manutenção dos empregos e dos níveis de consumo.

Foi a recuperação da confiança no funcionamento da economia que permitiu o forte crescimento do PIB já no primeiro trimestre de 2010, acompanhado de um persistente aumento

do nível de emprego. Isso não aconteceu em nenhum país. Nem nos EUA nem na Europa, talvez com uma única exceção na Alemanha.

O fator confiança é fundamental para dar maior tranquilidade à economia, porque, quando o trabalhador não sente medo de perder o emprego, ele fica um pouco mais ousado nos seus hábitos de consumo. A expansão do consumo, como está acontecendo no Brasil, é fundamental para restabelecer o dinamismo do circuito econômico.

A característica principal das crises econômicas, especialmente quando derrubam rapidamente os mercados financeiros, é a falta de confiança que toma conta das pessoas. A primeira vítima é sempre o emprego. Na atual crise, 30 milhões de postos de trabalho ao redor do mundo deixaram de existir, a economia mundial entrou em recessão e o consumo desabou, porque: 1. Como você não confia em mim, eu não confio em você. 2. Logo, quando recebo o salário, compro menos do que preciso e guardo um restinho, com medo de perder o emprego. Mas, ao não gastar um pedaço do salário, eu deixo de dar emprego para alguém que estaria produzindo o bem que eu compraria, mas não comprei. Recebi o salário na fábrica de tratores; vou comprar feijão, arroz, roupas. Se eu deixar de comprar roupas, o produtor de algodão, do fio, o fabricante do tecido e os que vendem a roupa recebem menos recursos.

Todos passam a ter atitudes mais cautelosas em relação ao consumo, ou seja, o medo se estabelece no nosso meio. Perdemos a confiança uns nos outros. A crise é essa coisa simples que muitos países ainda não levaram em conta desde o começo da tragédia.

O Brasil enfrentou a crise, a economia resistiu ao tranco e se recuperou por uma ousadia do presidente Lula. Naqueles momentos de grande constrangimento, quando todo mundo só pensava em se proteger, em guardar, em ficar líquido, o trabalhador evitando gastar, o empresário adiando investimentos, o banqueiro sem emprestar, ele veio e disse: “Não, nada disso, vamos tocar para frente que a coisa vai funcionar. Se você, por medo de perder o emprego, deixar de comprar, aí, sim, você vai ficar desempregado”.

A aceitação dessa forma de comportamento restabeleceu o circuito econômico: eu pago você, que paga ao Joaquim, que empresta ao José, que me paga… e, assim, esse circuito foi retomando a atividade. É por isso que a engrenagem da economia brasileira não deixou de funcionar, quando quase todo mundo derrapava e ainda luta para reencontrar a trilha.

Em termos bastante simples, foi o que aconteceu no Brasil, melhor do que aconteceu no restante do mundo. Restabeleceu-se a confiança entre os brasileiros muito mais rapidamente do que nos demais países e esse, inegavelmente, foi o fator decisivo. Hoje podemos comparar os resultados e dizer que demos um belo tombo nos analistas e especuladores que apostaram pesado contra a estratégia brasileira.

Não adianta tentar esconder que, aqui, o fator catalítico foi a ousadia do presidente Lula. Diante do assédio externo, ele se apoiou naquele mandamento do esporte predileto dos brasileiros, segundo o qual, a melhor defesa é o ataque, para neutralizar o desafio da onda corrosiva que invadira os mercados financeiros, fechando empresas e consumindo empregos.

Antes que os empresários passassem a jogar na retranca, ele mobilizou as equipes dos ministérios econômicos para desengavetar rapidamente a cenoura do diferimento de impostos, oferecendo-a como contrapartida da garantia da manutenção dos empregos. E não hesitou em endurecer o jogo nas poucas ocasiões em que o governo não encontrou a receptividade esperada.

Lula arriscou todo o seu capital de popularidade com uma mensagem direta, sem rodeios, acolhida rapidamente pelos trabalhadores, empresários e pela população em geral. Venceu a descrença inicial, atropelou a oposição de comentaristas e analistas econômicos que acreditaram na virada de jogo contra o Brasil, mas perderam o fôlego ante a subida espetacular dos índices de aceitação de seu governo.

Fonte:http://www.cartacapital.com.br/politica/a-ousadia-de-lula

A batalha dos números

Por Cynara Menezes

Os analistas de pesquisa têm uma explicação simples para o fato de, na reta final de uma campanha eleitoral, os resultados dos institutos ficarem muito parecidos: a consolidação das intenções de voto reduz as nuances e torna mais homogêneos os grupos de eleitores. Fica mais fácil, portanto, captar as tendências.

O grande lance, o que evidencia a qualidade dos pesquisadores, é acertar quando a corrida das eleições está no seu início e o eleitorado ainda está muito disperso. Ligado ao jornal Folha de S.Paulo e chancelado pela Rede Globo, o Datafolha criou em torno de si a aura de grande reputação. Era como se seus métodos fossem superiores e suas medições, mais confiáveis. Verdadeira ou não, essa suposta superioridade técnica virou, com uma intensidade nunca antes vista em eleições, uma arma contra os rivais. A associação entre o instituto e o jornal provocou uma espécie de caça às bruxas no início do ano. Os alvos foram dois concorrentes mineiros, o Sensus, de Ricardo Guedes, e o Vox Populi, de Marcos Coimbra.

Agora, a menos de um mês da eleição, o Datafolha vê-se enredado na própria armadilha. Depois de uma correção brutal de rumo – em três semanas e meia o instituto saiu de um empate técnico de Dilma com o tucano José Serra para uma acachapante vantagem de 20 pontos porcentuais da petista – é a empresa dirigida pelo sociólogo Mauro Paulino que está na berlinda.

Há uma percepção cristalizada entre a maioria dos especialistas sérios do setor de que, no mínimo, a empresa do Grupo Folha cometeu graves falhas técnicas. Marcus Figueiredo, do igualmente conceituado Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) não mede palavras. Autor da chamada “pesquisa das pesquisas”, que compara os levantamentos das principais companhias do ramo, é categórico: “O Datafolha errou. Demorou mais de um mês para encontrar os eleitores de Dilma. Terá de explicar por quê”.

Entre os quatro grandes, o Datafolha é o único a utilizar a amostragem por “ponto de fluxo”, ou seja, escolhe determinados lugares e aborda os transeuntes. Os demais utilizam a visita em domicílio, com base no Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É aí que poderia estar a maior distorção no resultado, que ocorre apenas nos momentos em que a campanha está mais indefinida.

“O método de ‘ponto de fluxo populacional’ é aceito internacionalmente. No entanto, tem um viés que pode, num momento de maior volatilidade entre eleitores, apresentar diferenças”, diz Figueiredo. “Pode afetar esta metodologia o que chamamos de ‘fenômeno de conglomerado’: como utilizam o mesmo ponto de fluxo, os pesquisadores trocam de entrevistados, mas eles continuam iguais, em termos de perfil. O Datafolha estava no mesmo ponto de fluxo, por isso suas pesquisas se repetiam. Provavelmente, ao reorientar os pontos de fluxo, captou o que os outros já haviam captado, a subida de Dilma, que não ocorreu de uma hora para outra, como o instituto diz agora.”

A polêmica entre os institutos de pesquisa começou em fevereiro deste ano. Até então, os números apresentados entre todos eram bastante similares. Naquele mês – o Sensus primeiro, e o Vox Populi a seguir – apontaram que Dilma, atrás nas pesquisas, havia empatado com Serra. A partir daí, o distanciamento entre os dois candidatos tornou-se diretamente proporcional às divergências dos números nas pesquisas. Medição após medição, o Sensus e o Vox captaram a subida da petista. Com certo atraso, o Ibope mediu fenômeno semelhante. Só o Datafolha continuava a registrar variações tecnicamente pouco convincentes. O tucano, em alguns momentos, chegou a ampliar sua vantagem. “Serra abre 9 pontos e se isola na frente”, nas palavras do jornal em 27 de março. Coincidência: no fim daquela semana, o tucano decidiria, enfim, anunciar oficialmente sua candidatura à Presidência.

O empate no Datafolha, com Serra 1 ponto porcentual acima, viria na pesquisa publicada em 24 de julho, um mês depois de o Ibope apontar que Dilma passara à frente. Àquela altura, o Vox Populi apontava vantagem em torno de 8 pontos para a candidata de Lula: 41% a 33%.

A “virada” de Dilma sobre o tucano só iria acontecer, para o Datafolha, na pesquisa publicada em 14 de agosto, com a petista a abrir 8 pontos de vantagem. Apenas uma semana depois, Dilma chegaria aos 47%, e Serra cairia para 30%. Desde então, as pesquisas voltaram a ficar parecidas, com em torno de 20% de diferença para a candidata governista.

Engana-se quem achou que isso traria a paz entre Vox Populi e Sensus e Datafolha, em conflito desde que as diferenças nas sondagens apareceram. Os diretores dos dois primeiros sentiram-se atingidos moral e cientificamente pelas críticas, estampadas pelo jornal dono do instituto contra suas pesquisas e ecoadas pelo PSDB e DEM.

Em abril, os tucanos entraram com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o Sensus. E obtiveram o direito de entrar na empresa e ter acesso aos questionários tabulados. Guedes, diretor da empresa, recorda que, mesmo antes de ser notificado pelo tribunal a autorizar a entrada de dois representantes do partido na sede da companhia, em Belo Horizonte, um fotógrafo da Folha de S.Paulo já estava a postos à espera dos desdobramentos. Diz ainda que os representantes foram, durante todo o tempo que passaram lá, instruídos ao telefone “por um instituto de pesquisa de São Paulo”. “Eles faziam perguntas típicas de quem é do meio, como: ‘Qual o índice de ponderação utilizado’?”

Depois de suportar meses de tentativas de desqualificação, Coimbra, diretor do Vox e colunista de CartaCapital, resolveu atacar. Em artigo no Correio Braziliense, diário para o qual também escreve, publicou um artigo franco e direto intitulado “Pesquisas polêmicas”.

No texto, Coimbra desafia o Datafolha a comprovar cientificamente a “disparada” de 17 pontos que aponta em sua penúltima pesquisa – na última, divulgada na quinta-feira 26, a ex-ministra já aparecia 20 pontos à frente. “Como explicar que Dilma tivesse crescido 18 pontos em 27 dias, saindo de uma desvantagem para Serra de 1 ponto, em 23 de julho, para 17 pontos de frente, em 20 de agosto? Que ganhasse 24 milhões de eleitores no perío-do, à taxa de quase 1 milhão ao dia?”

O cientista político apontou como “fantasiosa” a explicação dada pelos diretores do instituto de que tal “disparada” se dera em virtude da estreia de Dilma no horário gratuito de televisão. “Três dias de propaganda eleitoral nunca teriam esse impacto.” De fato, no dia seguinte à divulgação da pesquisa, a própria Folha publicaria um texto em que dizia ser maior o potencial de Dilma “entre quem não viu a propaganda” no horário eleitoral. Segundo a reportagem, 66% do eleitorado ainda não havia assistido à propaganda da petista, parcela “formada sobretudo pelos menos escolarizados e pelos mais pobres, segmentos em que a candidata se sai melhor”.

A CartaCapital Coimbra considerou “estapafúrdias” as explicações dadas pelo concorrente para a subida de 9 pontos de Serra em julho, detectada apenas pelo instituto paulista. “Eles diziam que Serra cresceu porque tinha parado de chover em São Paulo, mas aí a gente olhava os dados e via que era no Sul que ele supostamente tinha subido. Uma coisa sem pé nem cabeça”, critica Coimbra, que diz não ter razão alguma para suspeitar de manipulação dos números, mas afirma ver dificuldade do instituto em aceitar que suas pesquisas naquele momento, comparadas às demais, não faziam sentido.

“Antes de fevereiro, estava tudo mais ou menos emparelhado. O processo de crescimento da Dilma vinha acontecendo, sem perder velocidade, à medida que ia aumentando o conhecimento do nome dela e a associação com o presidente Lula”, diz o diretor do Vox Populi. “Só eles podem responder onde erraram, mas o que fica nítido é que o Data-folha começa a sair então de sua própria trajetória. A evolução natural dos dados apontava para outro resultado. Ou seja, os dados do Datafolha começaram a ficar não só diferentes dos nossos, como dos deles mesmos. E, em vez de se perguntar o que havia de errado com os dados deles, passaram a dizer que os outros é que estavam equivocados. Uma posição arrogante e tola.”

Na verdade, ainda que Coimbra não o diga, a ofensiva fez mais do que apenas sugerir equívocos nos concorrentes. O que se insinuou, a ponto de estimular ações judiciais dos tucanos, foi que as pesquisas a detectar o crescimento da petista tinham um viés com o intuito de favorecer a candidatura da situação.

Tanto o Vox Populi quanto o Sensus queixam-se da utilização do jornal pelo Datafolha, embora, na tentativa de explicar as distorções, recentemente a ombudsman da Folha tenha salientado que o instituto “é uma empresa à parte”. Quando, em abril, o Vox apontava o crescimento de Dilma, duas notas publicadas pela coluna “Painel” da Folha questionavam a metodologia utilizada pelo instituto mineiro, com procedimentos que seriam conhecidos “por distorcer resultados”. Contra o Sensus, o jornal tentou colocar em xeque a metodologia, os contratantes, e repercutiu frases de representantes do PSDB que acusa-vam o instituto de “distorcer” dados.

A suposta distorção consistia no fato de o pessoal de Guedes e Coimbra estimular os entrevistados a fazer associações políticas – Dilma e Lula, a mais notória. O que se pergunta é o seguinte: se esta será uma eleição plebiscitária e se a figura do presidente da República é tão central no processo, que tipo de levantamento teria mais potencial para “distorcer” a realidade: o que associava a ex-ministra a Lula ou o que escondia essa relação?

Nos bastidores, os diretores dos institutos trocavam acusações durante as reuniões cada vez mais tensas da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisas (Abep). No congresso da entidade, em março, outro diretor do Vox Populi, João Francisco Meira, colocou em debate a possibilidade de a eleição acabar no primeiro turno, o que desagradou a Paulino. O diretor do Datafolha enviou posteriormente e-mail ao grupo afirmando ser um “desserviço” à pesquisa no Brasil que se fizessem projeções nesse sentido.

Meira reagiu, também em e-mail. Segundo ele, o Datafolha replicava o comportamento do jornal da mesma empresa, “de ser o dono da verdade”. Em um encontro da Abep no começo de abril, os diretores das duas empresas voltaram a se enfrentar. “Acho absurdo a Folha, que possui um instituto de opinião, promover a desqualificação dos concorrentes”, disse Meira, apoiado por Guedes, que apontou “erros” na metodologia do concorrente paulista. A relação geral azedou.

Sempre houve, por parte dos demais, inclusive o Ibope, incômodo com a postura do Datafolha de se defender de questionamentos com o argumento de ser “o único” a não vender pesquisas eleitorais para partidos políticos e instituições financeiras. “Como se isso nos fizesse moralmente inferiores”, reclama Coimbra. “Eles acham que os partidos são grupos de bandidos? Eu me orgulho de fazer pesquisas para políticos, para multinacionais. Agora que nossas projeções se confirmaram, eles deviam nos pedir desculpas”, diz Guedes. Márcia Cavallari, do Ibope, reforça: “Fazemos pesquisa para todo mundo que nos contrata. Não é isso que faz de um instituto mais ou menos idôneo, e sim sua credibilidade”.

O portal iG, que, em parceria com a TV Bandeirantes, divulga os levantamentos do Vox Populi, publicou, no sábado 21, um texto onde questiona a metodologia do Datafolha e a insinuação de que os outros institutos não seriam confiáveis por fazerem pesquisas para partidos e empresas. “De duas, uma. Ou a frase não quer dizer nada e é repetida sem necessidade – ou quer dizer sim, e visa sugerir, de alguma forma, que o instituto que aceita políticos ou bancos como clientes aceitaria também modificar o resultado final da pesquisa, distorcendo a realidade encontrada pelos entrevistadores. Se for esse o caso, estaríamos diante de uma acusação gravíssima. Em vez de diferenças metodológicas aceitáveis do ponto de vista científico, haveria um fosso moral entre o Datafolha e seus concorrentes”, publicou o iG.

O diretor-executivo de jornalismo da Band, Fernando Mitre, enviou declaração a CartaCapital em que destaca o fato de as pesquisas do Vox Populi divulgadas pela emissora terem antecipado as tendências. “A Band contratou as pesquisas do Instituto Vox Populi, mas não deixou de divulgar as demais. Note-se que os resultados dados inicialmente pelo Vox começaram a aparecer, mais tarde, nas outras pesquisas. Hoje, estão praticamente igualadas, com pequenas oscilações. Quando os resultados eram muito diferentes, chegamos a fazer programas especiais exatamente sobre essas diferenças, abordando também questões metodológicas. É claro que temos dado destaque ao fato de que nossas pesquisas exclusivas anteciparam os resultados que estão aí.”

Em termos técnicos, os erros metodológicos apontados pelos outros institutos no Datafolha, para que tenha chegado a um resultado tão discrepante dos demais a certa altura da campanha, dizem respeito primeiro ao uso de pontos de fluxo populacional em detrimento do domiciliar, como salientou Figueiredo. Mas há outras questões. O Datafolha não iria na zona rural, onde sabidamente o governo é bem avaliado e Dilma liderava desde janeiro. Além disso, ao pedir o telefone aos entrevistados para a checagem, reduziria o espectro econômico da amostragem, já que apenas 45% dos domicílios brasileiros possuem aparelho fixo e 75%, celular. Isso tornaria o perfil do entrevistado um pouco mais elitizado e menos representativo da totalidade dos eleitores. Sabe-se que os mais ricos e com maior escolaridade tendem a definir seu voto mais cedo. Procurado, Paulino não atendeu ao pedido de entrevista de CartaCapital.

Um dos pontos que saltam aos olhos não de especialistas, mas do leitor da Folha, é que possivelmente o instituto, no mínimo, subestimou o potencial de transferência de votos do presidente Lula. Em setembro de 2008, o Sensus previa que 44,1% dos eleitores votariam no candidato apontado por Lula para as eleições municipais daquele ano. Já o Datafolha estimava, em dezembro do ano passado, que só 15% dos eleitores estariam dispostos a votar para presidente na candidata dele. Quando a diferença de Dilma para Serra alcançou 8 pontos pelos dados do próprio instituto, Paulino escreveu que a transferência chegara “no teto”.

“A pesquisa Datafolha divulgada hoje (14 de agosto) é um divisor de águas. Além de trazer, pela primeira vez, a liderança isolada de Dilma Rousseff na disputa presidencial, marca uma redução importante da influência do presidente Lula como cabo eleitoral de sua ex-ministra a partir daqui”, anotaram Paulino, diretor-geral, e Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do instituto. “Daqui em diante, o conjunto a ser disputado é o dos que até cogitam votar em um candidato apoiado por Lula, mas não estão certos disso. Hoje, eles são 22% do eleitorado e votam mais em Serra (36%) do que em Dilma (31%). Para esses, o desempenho do presidente não é suficiente para convencê-los a eleger sua ex-ministra.” A previsão, como mostra o último levantamento do próprio instituto, também não se concretizou.

Não foi, porém, o Datafolha o único a subestimar o potencial de transferência de Lula. Um ano atrás, o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, chegou a dar entrevista na qual garantia que o presidente não faria o sucessor e que sua candidata teria, no máximo, 20% dos votos. Errou feio e voltou atrás. Em fevereiro, afirmava não se surpreender se Dilma ganhasse. No início do mês, dava como certa a vitória da petista no primeiro turno.

Em boa medida, essa “guerra” entre os institutos serviu para derrubar certos mitos sobre a qualidade das empresas. Na opinião isenta do professor Marcos Figueiredo, do Iuperjm, “todos os quatro grandes, pelo que temos visto em nossas análises, estão todos muito bem, são confiáveis e absolutamente equivalentes.” Quem pensa – ou pensava diferente – apenas fazia coro com a torcida organizada.

fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/a-batalha-dos-numeros-2