Powered By Blogger

domingo, 9 de agosto de 2015

UM POUCO DE MARX NÃO FAZ MAL A NINGUÉM

Publicado por Matheus Paulo Melgado

Em um mundo com o capitalismo cada vez mais voraz, reposicionar a sua obra no senso comum, que ao longo dos anos foi deturpada desonestamente, ignorando os preconceitos ideológicos um tanto quanto imaturos, se faz urgente para entender algumas questões contemporâneas. Mais que uma provocação, este texto é uma tentativa de expor alguns conceitos que se fazem presentes até hoje. E mostrar que, saber um pouco de Marx, não faz mal a ninguém.

“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na historia do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Esta frase, Karl Marx (1818-1883) escreveu no início do livro “18 de Brumário de Luis Bonaparte”, no século XIX. E é mais uma, de tantas outras frases famosas de um dos grandes intelectuais da humanidade, que se mostra, no século XXI, fundamental para o entendimento da nossa sociedade, com uma herança intelectual que abrange diversas áreas como Economia, Comunicação Social, Ciências Sociais, Direito, Filosofia, História, Geografia, Pedagogia e Serviço Social.

De acordo com a BBC, em 2005, Karl Marx foi eleito o filósofo mais importante de todos os tempos. Alemão, nascido em 1818, usou ironicamente do jornalismo, que atualmente se apresenta como um serviço a população e um aparelho da classe dominante, para escrever os primeiros escritos sobre suas ideias. Em Berlim, participou do Clube dos Doutores, liderado pelo filósofo alemão Bruno Bauer. Mais tarde, ingressou para o movimento Jovens Hegelianos, inspirado no filósofo alemão Friedrich Hegel, cuja filosofia idealista foi criticada por Marx ao formular o materialismo histórico dialético. Escreveu diversas obras que são conhecidas mundialmente como o Manifesto Comunista, O Capital, Ideologia Alemã e Teses sobre Feuerbach. Atualmente, reconhecer a importância da obra desse pensador, pode parecer um tanto quanto ridículo ao senso comum, devido às experiências socialistas do século XX e a tal da ideologia da classe dominante. Frases como “Vai pra Cuba!”, “Não quero perder o meu iphone” ou “ É fácil falar de uma cobertura em Ipanema”, se tornaram populares no imaginário das pessoas e um discurso pueril que mostra o desconhecimento sobre Marx. No entanto, ao contrário, nas Universidades do mundo a fora, seu pensamento é lido, relido e com desdobramentos interessantes.

Fã-Cine-apresenta-Tempos-Modernos-de-Chaplin.-Fto-divulgação.jpeg
Cena do filme Tempos Modernos de 1936
É indiscutível que suas previsões sobre o que aconteceria com o modo de produção capitalista não tenham dado certo, o processo pelo qual ele chegou a essa conclusão, de certa forma, se encaixa aos dias atuais. Entender alguns conceitos como alienação, luta de classes como motor da história e ideologia são fundamentais para entender um pouco da sociedade atual. O filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin é o mais emblemático e didático quando alguém quer falar de alienação no trabalho. Marx denunciou que o processo ocorre quando o trabalhador não se reconhece na produção do seu trabalho. Afinal, ele fora extraído a força dos campos às fábricas. A alienação nos dias atuais, se estende para diversas formas de alienação como intelectual e cultural, por meio da indústria cultural ( denunciada, na década de 30, pelo marxista Theodor W. Adorno).

Embora as classes socioeconômicas tenham se pulverizado, não é exagero, no século XXI, falar em luta de classes e as recentes tentativas políticas de diminuir o abismo que a constitui. Com um olhar um pouco mais aguçado, percebe-se que ela se traduz em um olhar preconceituoso, em atitudes como levantar o vidro do carro ou o incômodo de estudar na mesma universidade que a filha da empregada. A consequência dessa luta, hoje muito mais simbólica, se faz presente, sobretudo, quando os interesses da classe dominante, se traduzem de tal modo, que passam a ser também retórica da classe dominada. Marx denominou tal movimento de ideologia, o que para ele é mentira, falsa consciência, pois são ideias que servem para a manutenção do status quo. Alguns argumentos sobre maioridade penal, legalização das drogas, aborto e outros temas polêmicos são incorporados como verdades absolutas e são, em suma, o discurso pronto da classe dominante. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, é um bom exemplo de ideologia marxista. Um negro pobre que conseguiu alcançar o mais alto cargo da magistratura brasileira sem obter nenhum benefício do Estado no que concerne as políticas públicas como cotas nas universidades ou o ProUni. Isto se torna regra e todo negro e pobre, aos olhos do discurso ideológico, deve ser igual ao Joaquim Barbosa, negando assim, qualquer política pública como as cotas para negros nas Universidade públicas brasileiras.

Em sua extensa análise sobre o modo de produção capitalista, a riqueza do comunismo não está em ninguém ter iphone ou outros símbolos capitalistas, e sim em todos terem. Assim, o que se prega não é distribuição da pobreza e sim distribuição da riqueza. Ter em mente a importância de Karl Marx não o faz marxista. Com um olhar um pouco mais humano e aguçado, sua teoria nos faz entender um pouco o porque as coisas se tornaram do jeito que são. Se despir dos preconceitos ideológicos se faz necessário em um mundo cada vez mais complexo, para não somente viver, mas interver nele.

http://obviousmag.org/anseios/2015/um-pouco-de-marx-nao-faz-mal-a-ninguem.html#ixzz3iKLFLDXF